quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Louça da Nobreza Brasileira I

D. João VI e D. Carlota Joaquina

Os estudiosos Wanderley Pinho e Newton Carneiro, afirmam que a chegada da Corte ao Rio de Janeiro, em 1808, despertou, na burguesia local, o gosto pela mesa requintada, substituindo os velhos pratos de metal e de barro, encontradiços nos inventários da Colônia, pelo luzido acabamento das peças de porcelana, primeiramente do Oriente e, já no segundo quartel do século XIX, da Europa. A partir daí, os nobilitados pela Coroa passaram também a assinalar seus serviços com escudos, coroas e monogramas, dando origem às hoje disputadas coleções de louça brasonada, de que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, os museus Histórico Nacional, Imperial de Petrópolis e Academia de Letras da Bahia possuem expressivas coleções.

Tema controverso para historiadores e colecionadores é o dos serviços de mesa trazidos pelo Príncipe Regente, quando da transferência da Corte para o Brasil, ou aqui adquiridos para uso da Casa Real. E a razão de tal fato é a ausência, ou pelo menos a não localização até a presente data, aqui ou em Portugal, de documentação idônea, seja pelo desaparecimento dos arquivos dos Condes de Redondo, em que, segundo consta, existiria minucioso inventário das peças embarcadas com a Família Real, seja pela lacônica descrição das alfaias dos Paços Imperiais, quando do Leilão de 1890.

foto IHGB

Dos oito serviços de jantar da Companhia das Índias tidos como de D. João VI - Galos (A), Pavões, Corças, Correios, Pastores (B), das Rosas, Vista Grande (C) e Vista Pequena - o Instituto possui exemplares dos primeiro, quinto, sétimo e oitavo, assim conhecidos em razão dos padrões de decoração. E, dos doze serviços de porcelana européia, oito - Reino Unido (D) e Camaristas, em porcelana francesa, Espinha de peixe e os chamados 'de barra bordeaux' (F), 'sépia e verde' e "de barra rosa", em porcelana possivelmente também francesa, o de "Wedgwood" (E) e o conhecido também como "das Rosas", em porcelana inglesa.
Serviço das Rosas - Inglaterra, séc. XVIII


Serviço das Corças - Cia. das Índias, séc. XVIII

Serviço do Reino Unido - Cia das Índias

Serviço dos Pavões - Cia das Índias

Fazenda Santa Cruz

Com o banimento dos Jesuítas do Brasil, o patrimônio da Fazenda de Santa Cruz reverteu para a Coroa, passando a se subordinar aos Vice-reis. Após um período de dificuldades administrativas, sob o governo do Vice-rei Luís de Vasconcelos e Souza, a Fazenda voltou a conhecer um período de prosperidade.
No início do século XIX, com a chegada da Família Real ao Brasil (1808) e o seu estabelecimento no Rio de Janeiro, a Fazenda foi escolhida como local de veraneio. Desse modo, o antigo convento foi adaptado às funções de paço real -Palácio Real de Santa Cruz.
Sentindo-se confortável na Real Fazenda de Santa Cruz, o Príncipe Regente prolongava a sua estada por vários meses, despachando, promovendo audiências públicas e recepções a partir da mesma. Nela cresceram e foram educados os príncipes D. Pedro e D. Miguel.
Por iniciativa do soberano português foram trazidos da China cerca de cem homens encarregados de cultivar chá, no sítio hoje conhecido como Morro do Chá. Durante quase um século essa atividade foi produtiva e atraiu o interesse de técnicos e visitantes, tal o pioneirismo de sua implantação no Brasil. No entanto, de acordo com o jornalista Patrick Wilcken, no seu livro Império à Deriva (2010), o chá-da-índia cultivado em solo brasileiro não apresentou as mesmas características originais, sendo de qualidade inferior e de gosto amargo, o que acarretou em fracasso econômico ao contrário do café.
D. João VI despediu-se de Santa Cruz em 1821, para retornar à Metrópole Portuguesa.

Serviço dos Galos da Fazenda Santa Cruz
Cia. das Índias

Serviço Vista Grande da Fazenda Santa Cruz
Cia. das Índias

Serviços da Vista Pequena da Fazenda Santa Cruz
Cia. das Índias

Pertencente à antiga Fazenda Imperial de Santa Cruz, o Serviço das Corças possui as bordas em verde com oito dragões representando os oito imortais. O motivo central da decoração é Si-Wang-Um no bosque, junto ao lendário Lago das Gemas, tendo uma corsa ao lado, e sobre ela um potiche simbolizando o budismo. Sendo um dos maiores aparelhos, nele encontramos vasos, ânforas e peças de ornamentação.

Outro serviço que também pertenceu à Fazenda Imperial de Santa Cruz foi o serviço Vista Grande. Ele é todo em sépia e possui alguns frisos em ouro e algumas rosas. É o único que apresenta figuras geométricas. Numa grande travessa existe uma paisagem com características ocidentais.

O Serviço das Rosas possui uma característica rara nas porcelanas Cia. das Índias: no verso de alguns pratos há uma inscrição em caracteres chineses que diz "feito com sabedoria por Kong-Wei-Dim". Esse serviço tem uma rica cercadura onde o ouro guarnece rosas de vivo colorido e sobre um fundo rouge-de-fer dá um imenso destaque à borda e no centro um pequeno ramo rosa e ouro completa a decoração.

Outro serviço dessa preciosa porcelana chinesa é o chamado Vista Pequena. Ele vem guarnecido de um filete azul, onde estrelas estão arrumadas simetricamente e no centro uma reserva redonda com uma paisagem ocidental é cercada de uma elipse, onde sete estrelas guarnecem cada lado.
Estes foram os serviços da Companhia das Índias de uso real.

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